A palavra Yoni é freqüentemente usada como sinônimo da palavra vagina, mas esse é um uso muito limitado de um conceito com um vasto significado espiritual. Yoni é um tópico amplo e neste capítulo abordamos o contexto mais amplo e o significado do conceito indiano/védico de Yoni.
O conceito de Yoni tem origem na Índia e tem conotações cosmológicas, espirituais, emocionais, psicológicas e físicas e até hoje desempenha um papel importante tanto no Hinduísmo como na medicina tradicional Ayurveda.
Yoni é uma palavra sânscrita – sânscrito é a antiga língua indiana – que aparece em vários textos dos Vedas, sendo este último uma grande e presumivelmente a mais antiga coleção de textos sagrados religiosos e espirituais da Índia antiga.
A Yoni é geralmente representada simbolicamente na forma de um quadrado, elipse ou base redonda posicionada horizontalmente com uma borda e uma abertura no centro. Normalmente, você verá um Lingam de forma cilíndrica (a contraparte masculina da Yoni) colocado de pé no centro. Pode-se encontrar ícones Yoni na literatura védica, assim como em muitas formas de arte indiana, santuários e templos hindus.
A ideia, intuito e significado da palavra Yoni e o que ela representa são extensos. Ela é usada de várias formas, como: fonte, origem, ninho, local de nascimento, útero, começos, morada, incubadora, criador, fertilidade, família, raça, casta, grão, semente, entre outros sinônimos.
Nas concepções cosmológicas e teóricas antigas da Índia, a Yoni é a representação da causa material do universo, ou seja, a fonte mãe ou base inerente do universo. A Yoni refere-se ao princípio feminino em todas as formas de vida conhecidas, incluindo seus ciclos sazonais, regenerativos e vegetativos.
Em muitas tradições religiosas e espirituais indianas, a Yoni é de importância fundamental, notavelmente no Shaktismo e Shaivismo, bem como nas linhagens Kaula e Tantra. A Yoni, juntamente com o Lingam, simboliza a criação e dissolução cíclica do universo e de todas as formas de vida individuais. A iconografia Yoni-Lingam mostra que Vida e Morte, suas expressões e interações, são uma unidade inerente na dualidade.
A Yoni também é vista como um símbolo anicônico de Shakti, que é interpretada como a energia cósmica, dinâmica, elementar e suprema que representa poder, habilidade, força, vigor, esforço, energia e capacidade. Shakti, então, é uma conceituação e personificação do poder criativo e sagrado feminino inerente, também conhecido como Amma, Devi, “A Mãe” ou “A Grande Mãe Divina”. Esse poder se manifesta por meio do feminino, da criatividade ativa e da fertilidade, embora essa energia também esteja presente no masculino, mas em sua forma latente.
Acredita-se que a energia Shakti seja uma força subjacente responsável pela criação e mudança. É aqui que surge a noção da Deusa, vendo Shakti como sendo encarnada e corporificada em várias Deusas Hindus femininas ou Devis.
Na Antiguidade, a Yoni foi utilizada como um símbolo divino em muitas civilizações ao redor do mundo. Embora chamada de Yoni na Índia, surgiu sob outros nomes e representações em várias culturas e sociedades primitivas. No Sudeste Asiático, por exemplo, ícones de Yoni com o Lingam inseridos são encontrados em antigos templos de pedra, em relevos e murais em vários países, como Indonésia, Camboja, Vietnã e Tailândia.
Como já mencionado no início deste artigo, em um sentido físico mais restrito, a palavra Yoni é usada como referência aos órgãos reprodutivos femininos. Ou seja, inclui a vagina, útero, clitóris, colo do útero, ovários, vulva, endométrio e trompas de Falópio.
Na Medicina Ayurvédica encontramos diversas modalidades de tratamento abordando a Yoni, como por exemplo, Yoni Prakshalanam, Yoni Pichu, Avagaha Sveda Yoni Sitz Bath, Uttara Basti, entre outras.
Os vários tratamentos Ayurvédicos que abrangem Yoni Roga – ou seja, distúrbios ginecológicos -, são terapias para curar certas doenças, desconfortos ou enfermidades, como Yoni Daha (sensação de queimação na vagina ou vulva), Yoni Srava (corrimento vaginal excessivo), Yoni Kandu (coceira na vulva), Yoni Viyapada (candidíase), para dar alguns exemplos.
Muitos dos tratamentos relacionados a Yoni que existem na Medicina Ayurvédica podem ser encontrados em outras partes do mundo, ou também em outros sistemas tradicionais de cura. Pense em tratamentos como vaporização vaginal e banhos de assento vaginais, que são modalidades de tratamento, com adaptações locais, usadas em todo o mundo.
Entretanto, a conhecida Yoni Massagem, hoje muito em voga em todo o mundo, está ausente na Medicina Ayurvédica e basicamente surgiu através do que agora é chamado de movimento Neotantra. É por isso que os tratamentos de Massagem Yoni são frequentemente chamados de Massagem Tântrica Yoni ou Massagem Tântrica Vaginal, entre outras nomenclaturas.
Lembre-se, no entanto, que a Yoni como referência ao útero, fertilidade, procriação e “a Mãe” criou, ao longo do tempo, muitas dificuldades para as mulheres, não apenas na Índia, mas em todo o mundo.
O problema que surgiu é a ideia de que uma mulher só é plenamente mulher se for capaz de criar, procriar, ou seja, ter filhos e, além disso, espera-se que seja uma mãe carinhosa, amorosa e abnegada. Essa ideia acabou contribuindo para roubar as mulheres de seu próprio valor intrínseco, sua dignidade e individualidade pessoal.
Por exemplo, isso significaria que uma mulher não deve buscar, ter ou experimentar prazeres sexuais ou outros para si mesma, e apenas sacrificar sua vida como mãe ou uma “boa” dona de casa. Isso também significa que ela é indigna, e humilhada se fizer o contrário ou se não puder “produzir bebês”. Outros aspectos importantes relacionados à vergonha e pudor diretamente ligados à Yoni são o ciclo menstrual da mulher, o parto e o período pós-parto que, tradicionalmente em muitas sociedades e culturas, tem sido visto como algo “sujo”, algo que precisa ser “limpo”.
Naturalmente, o aspecto “sangrento” da menstruação ou do parto de uma mulher incita à “limpeza”, que faz sentido quando pensamos em uma questão de higiene. No entanto, muitas vezes isso deu margem para a ideia de que ser mulher nessas situações é ser algo impuro; que durante a menstruação, parto ou pós-parto elas devem ser evitadas, escondidas, e/ou passar por rituais de limpeza, algo que diminui o valor de uma mulher.
Nesse sentido, e sem entrar na análise de obras como o Kama Sutra indiano ou de linhagens espirituais como o Tantra, podemos concluir que o movimento Neotantra, surgido na década de 1960 no Ocidente, tem promovido cada vez mais a libertação das mulheres, quando se trata delas experimentarem e aceitarem seu corpo, prazer e realização emocional como algo normal e que vale a pena buscar – em um nível sexual, não sexual e espiritual.
O que se encontra hoje como Sexo Tântrico, Massagem Tântrica, Massagem Lingam, Massagem Yoni ou Mapeamento da Yoni, entre outros, são modalidades que surgiram através do movimento Neotantra, mas é improvável que qualquer uma delas estivesse presente nas linhagens e filosofias espirituais e religiosas originais do Tantra.
O que está claro, no entanto, é que há um trabalho contínuo a ser feito para que as mulheres se libertem da repressão sexual, dos padrões e práticas hostis às mulheres na sociedade e dos bloqueios e traumas mentais, psicológicos e físicos causados por eles. Isso certamente não é apenas algo que diz respeito ao Ocidente, mas também a outras culturas e sociedades, sejam elas africanas, sul-americanas ou asiáticas.
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